A acusação apresentada pelo Gabinete do Procurador -Geral na terça -feira, 18 de fevereiro, contra o ex -presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e 33 outras pessoas é o evento político mais aguardado – e mais importante do país. O documento realmente não contém novos elementos: quase todos os fatos apresentados já foram incluídos na acusação apresentada pela polícia federal em novembro do ano passado.
Existem dois grandes desenvolvimentos. O primeiro é a responsabilidade de Bolsonaro por um processo de subversão democrática, que durou até os eventos de 8 de janeiro de 2023. Tudo começou em 2021, assim que a Suprema Corte anulou condenações contra o ex -presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pavor Seu retorno ao jogo eleitoral.
A decisão a favor de Lula levou Bolsonaro a adotar, de acordo com a denúncia, “um tom crescente de ruptura com normalidade institucional”. Desde então, o presidente, seus aliados e apoiadores começaram a questionar a legitimidade da Suprema Corte (com base no slogan “Supreme é o povo”), bem como a adequação das urnas eletrônicas.
Narrativas antidemocráticas foram inspiradas por slogans Trump
Nos dois casos, as narrativas antidemocráticas foram inspiradas nos slogans de campanha de Donald Trump em 2020, como “Stop the Steal” e “Big Lie”. Emulando o Trumpismo tem sido uma parte inseparável da estratégia política de Bolsonaro desde sua campanha presidencial de 2018.
O segundo novo desenvolvimento diz respeito à caracterização, como uma tentativa de golpe, de um conjunto de decisões e planos que não se encaixam no modelo clássico de ruptura institucional. Como a história política republicana do Brasil foi marcada por Coups d’état, uma estratégia comum em defesa de Jair Bolsonaro baseia -se na idéia de que, se não houvesse tentativa de colocar tanques nas ruas ou fechar o Congresso, não havia intenção de quebrar democracia.
Em seu relatório de 272 páginas, Paulo Gonet argumenta que um golpe contemporâneo pode acontecer por outros meios. No caso brasileiro, a tentativa foi marcada pelo uso aberto de mecanismos de desinformação, geralmente pelo próprio presidente e membros do governo, para promover desconfiança nas instituições e no processo eleitoral, produzem instabilidade social e garantir que Bolsonaro permanecesse no poder, mesmo depois de ser derrotado nas pesquisas.
Mas a queixa vai além. Não foi apenas uma tentativa de minar a democracia com narrativas amplamente disseminadas e ataques a apoiadores nas mídias sociais. Nas palavras do procurador-geral, entre os objetivos da organização criminosa criada para o golpe, foram realizar “seqüestros, prisões e assassinatos”, a fim de garantir o controle dos três ramos do governo e o restabelecimento da lei e ordem.
Oficiais de alto escalão faziam parte do plano antidemocrático
O relatório diz que, de acordo com o plano de golpe, chamado “Dagger Green e Amarelo”, os membros das Forças Especiais do Exército assassinariam a justiça da Suprema Corte, Alexandre de Moraes, bem como os vencedores da eleição de 2022, Lula da Silva e seu vice -Presidente, Geraldo Alckmin. O plano já era conhecido há alguns meses, mas Gonet traz elementos para apoiar o caso de Jair Bolsonaro não apenas estar ciente dessas etapas, mas que ele concordou com eles.
As acusações contra o ex -presidente também lançaram luz sobre o papel das forças armadas no enredo do golpe. Oficiais de todas as fileiras, começando com membros do círculo interno do presidente, como o almirante Almir Garnier e os generais Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, eram partes integrais do planejamento antidemocrático.
Não é de surpreender que as 34 pessoas indiciadas, 24 sejam militares. A tentativa de golpe foi a conclusão de um processo acelerado de militarização da política brasileira, que começou sob a presidência de Michel Temer em abril de 2016. Em quatro anos, o número de militares ativos que atuam no ramo executivo aumentou de 1834 para 2558. O auge desse processo, em 2020, oito dos 22 ministérios do governo de Bolsonaro foram ocupados pelo pessoal militar.
Bolsonaro continua a negar todas as acusações e está tentando permanecer vivo politicamente. E a denúncia coloca Bolsonaro na posição de ser politicamente perseguido. A vitimização é uma das estratégias mais populares da extrema direita, pois lhes permite projetar -se, em nome do povo, contra um inimigo vazio e assustador (o “sistema”).
Embora Gonet tenha tido muito cuidado ao elaborar sua queixa como peça exclusivamente legal, Bolsonaro – no Congresso e nas redes – foi rápido em denunciar uma suposta perseguição contra “o maior líder político que o Brasil já viu”. Em outras palavras, a tensão contra instituições políticas está em pleno andamento.
Bolsonarismo continua sendo a principal força de oposição
A acusação também tem o potencial de inflamar os apoiadores de Bolsonaro, com possíveis consequências eleitorais. A próxima eleição nacional no Brasil fica a um ano e meio de distância e Bolsonaro continua sendo a principal força de oposição. Figuras como a ex -primeira -dama Michelle Bolsonaro, o congressista Eduardo Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, são projetadas como candidatos para a corrida presidencial de 2026.
Diante de um governo fraco, cuja popularidade caiu de 35 % para 24 % desde dezembro, um bolonarismo unificado pela narrativa de perseguição será um grande problema para Lula. Essa narrativa será testada em meados de março, quando manifestações nacionais forem chamadas contra o atual governo – e a favor de Bolsonaro.
Finalmente, devemos monitorar como a Casa Branca responde a eventos políticos no Brasil. Sabemos que a pressão do governo Biden foi crucial para impedir que o golpe de estado se materialize em 2022. Trump e seus aliados, como Elon Musk e Marco Rubio, são críticos abertos de Lula e as decisões da Suprema Corte.
É improvável que o governo Trump, um mês depois de assumir o cargo, trate a situação política brasileira como uma prioridade. Mas o caminho para 2026 será longo e tortuoso, e os desafios para a democracia podem vir de dentro e fora do país.
A conversa
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Guilherme Casarões não consulta, trabalha, tem ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que possa se beneficiar da publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de sua posição acadêmica.